Brincar de amar

Eu não tenho medo do amor, nem estou fugindo dele. Eu tenho é medo de você. Que aos poucos se deu conta de que sabia exatamente como fazer pra me ter ali, em suas mãos e com isso ficou mal acostumado, se acomodou, e começou a fazer tudo errado, só pra ter o prazer de ao menos uma vez na vida não ser um perdedor. Contaram que certo dia, te ouviram dar palestra pros colegas de copo, num barzinho qualquer, narrando que depois de ter sido um idiota, e sofrido tantas vezes, você tinha finalmente compreendido como deveria lidar com os sentimentos, com os seus e com os dos outros. Havia tirado como lição a pressuposição de que ninguém valoriza o certo, e como consequência do aprendizado, você concluiu que deveria começar a dançar conforme a música. Pois bem - infelizmente - eu fui a próxima e você colocou todo o seu aprendizado em prática logo comigo. Logo eu, eu e o meu coração, que só estávamos ali querendo ser feliz. 

Por vezes eu mesma te vi contando vantagem para seus "amigos", você se gabava, e dizia que era você o motivo das minhas lágrimas. Eu realmente não entendo como isso podia te fazer tão bem. Que ninguém nunca espere o mesmo de mim. Ficar ignorando, fazendo joguinhos e fazer alguém sofrer pra ter valor? - Não faz sentido! - Se for pra ser amada, eu quero que me amem pelas coisas boas que eu tenho por dentro, e que eu estou disposta a colocar pra fora, caso contrário, desista. Eu não sei brincar de amor, eu não sei gostar pela metade. Ou mergulho sabendo que você está lá em baixo pra me segurar, com total confiança e sem medo nenhum de morrer afogada ou nem chego perto da água.

Depois de entender essas coisas, eu cai fora. Sumi. Sem avisos, nem nada. E ai você voltou, me procurou não sei quantas vezes, me achou, me segurou pela mão e prometeu mudar. Reclamou da sua vida longe da minha. Fez drama e até chorou (se a sua carreira de conquistador não der certo, você pode ser ator global). Eu já estava cansada de tantas segundas chances e estava segura de mim. Estava, até você voltar pra bagunçar. Comecei a ver você mexendo comigo, de novo, e tudo o que eu menos queria era perder a razão e acabar quebrando a cara e o coração outra vez. Por que é isso o que acontece nas poucas vezes que eu teimo em me permitir a me preocupar novamente e ouvir a voz do coração: eu volto a entender, o que me levou a querer exatamente o contrário. E foi exatamente isso o que aconteceu.